Capítulo 6 - O filho secreto do bilionário
- Erica Christieh

- 15 de jul.
- 5 min de leitura

Benjamim continuava com a mão estendida esperando que Antonela a segurasse, mas se frustrou quando observou Antonela se levantar, se colocando de frente a ele, enquanto, com a cabeça baixa, tentava limpar a sujeira da roupa.
Depois de tudo o que havia acontecido entre eles, Benjamim esperava uma recepção melhor. Mas Antonela o ignorou como se ele não existisse. Assim que terminou de se ajeitar, ergueu a cabeça, o olhou pela última vez e girou os calcanhares para partir.
Ele não pretendia deixá-la ir, não depois de tudo o que havia acontecido entre eles três anos antes.
— Está atrasada para o velório da sua mãe – disse, enfiando as mãos nos bolsos da caça e olhando para ela.
Imediatamente, os pés de Antonela se prenderam no chão, como se criassem raízes. Ela travou o maxilar e então se virou, oferecendo a ele um olhar afiado.
— Não finja que sabe alguma coisa sobre mim – ela esperou tanto por aquele momento, que mal conseguia se segurar – eu não o conheço e não costumo falar com estranhos.
Por mais que Antonela tenha dito aquilo de um modo desdenhoso, Benjamim pareceu não se importar. Olhou nos olhos dela, alargando um sorriso, como se achasse graça em suas palavras.
— Você tem razão – ele deu um passo na direção dela – provavelmente não fala com estranhos, mas costuma dormir com eles. A sua política de boa convivência é bastante interessante, senhorita Bianchi.
Ela arregalou os olhos sem acreditar no que acabava de ouvir. Um sorriso amargo atravessou seus lábios e ela até revirou os olhos em desgosto, mas não deixaria se abater, muito menos mostraria fraqueza diante dele.
— Você sabia que eu era sua noiva abandonada no altar – ela afirmou, não foi uma pergunta retórica - por isso resolveu se aproveitar de mim. Você conhece muito de boas condutas.
— Claro que eu sabia – respondeu ele e a memória daquela noite era tão viva em sua mente que dava a impressão de que havia acontecido apenas alguns dias atrás – eu queria ensinar a você alguns princípios, mas pelo jeito você não aprendeu muita coisa.
Antonela ficou chocada. Como se a abandonar no altar já não fosse uma boa lição.
— Me ensinar princípios? – ela debochou. Não imaginou que teria essa conversa com Benjamim depois de três anos – que tipo de conduta quebrei para merecer um castigo do todo-poderoso?
— Não deveria sair por aí falando mal de alguém que você não conhece – respondeu com um sorriso cínico no rosto – feio, cheio de manias e vícios. Um homem sem rosto?
Antonela se surpreendeu de que Benjamim ainda se lembrasse de cada palavra que ela havia dito naquela noite. Ela explodia por dentro. Como aquele homem pensou em fazer tudo aquilo premeditadamente?
— Vamos esquecer o que aconteceu – Benjamim prosseguiu quando percebeu que Antonela não conseguia dizer nada – afinal, teremos que aprender a conviver a partir de agora.
O que ele queria dizer com isso?
Antonela respirou fundo antes de responder qualquer coisa, afinal ela só estava ali para se despedir de sua mãe e não permitiria que Benjamim estragasse esse momento também.
— Estou de acordo. Se você não tivesse tocado no assunto, eu nem teria me lembrado daquela noite – mostrou os dentes para ele – e eu agradeço de verdade que tenha me abandonado no altar. Foi um grande livramento.
Ela girou os calcanhares rapidamente e voltou a caminhar para longe dele. Benjamim ficou sem reação, parado no mesmo lugar, apenas observando Antonela se afastando cada vez para mais longe dele.
Ela evitou olhar para trás, não queria dar a ele a sensação de arrependimento pelas palavras proferidas, mas por dentro seu coração disparava tão rapidamente que ela quase não conseguia se controlar. A multidão, à sua frente, fez seus nervos se acalmarem lentamente, até ela romper e se ver em frente ao caixão de sua mãe. Seus olhos marejados mal perceberam Henrico se aproximar, agarrando-a pelo braço e a levando para longe dali.
— O que está fazendo, pai? – Antonela olhava para ele, assustada. Ela sabia que Henrico a detestava, mas não imaginou que seria recepcionada daquela forma – deixe-me despedir da minha mãe.
— Ela morreu desgostosa – Henrico não havia mudado nada – desde o dia em que você fugiu, Francesca vivia chorosa pela casa sem notícias suas e isso a destruiu. Saiba que ela morreu por sua causa, Antonela, sendo assim não tem direito de se despedir de ninguém.
As lágrimas escorreram pelo seu rosto vermelho. As palavras de Henrico atingiram o objetivo e, por um tempo, ela acreditou nele. A culpa era sua. Percebeu que as pessoas presentes observavam-na silenciosamente. Alguns tentaram impedir Henrico de prosseguir com aquela loucura, mas nenhum deles se aproximou de Antonela para confortá-la.
— Não deveria ter voltado, Antonela – a voz de Alessia rompeu o silêncio – agora é tarde demais, a mamãe está morta.
Antonela considerou aquilo tão injusto. Não poder se despedir da própria mãe, por uma decisão que a própria família a forçou cometer. Ela enxugou as lágrimas e, com coragem, ignorou todos os avisos de perigo, caminhando de volta ao caixão. Observou de longe a presença de Benjamim, segurando Henrico e o levando dali. Era estranho aquele homem estar no enterro de sua mãe, ainda mais depois de tudo o que ele havia feito sua família passar.
Henrico perdoava o homem que havia abandonado sua filha no altar, mas não perdoava Antonela por ela decidir ir embora. No coração de Henrico Antonela, não existia.
Olhou para Francesca e pediu perdão por deixá-la. Ela perdia naquele momento a única pessoa que verdadeiramente a amou e a defendeu. Agora não havia sobrado mais ninguém.
Percebendo o clima ruim que pairava no velório de Francesca, Antonela se despediu da mãe e se preparou para ir embora do cemitério, quando sentiu uma mão segurá-la. Quando se virou, viu Alessia, que agora sorria ao lado de Benjamim.
Aquilo só podia ser um pesadelo e Antonela começava a se arrepender por voltar a sua terra natal.
— Quero te apresentar uma pessoa – ela parecia bastante feliz para quem acabara de perder a mãe - esse é o Benjamim, o meu noivo.
Alessia levantou a mão, mostrando um anel com uma enorme pedra de brilhante. Antonela arregalou os olhos, assustada, observando Benjamim abaixar a cabeça envergonhado. Agora ela entendia tudo.
— Vamos nos casar, Antonela, isso não é maravilhoso? – ela dava pulos de alegria e Antonela entendeu que a única intenção de Alessia era provocá-la.
Era claro que Alessia sabia que Benjamim era o homem que havia a abandonado no altar. Forçou um sorriso, odiaria demonstrar fraqueza para qualquer um dos dois, e finalmente disse.
— Isso é uma grande notícia – foi quando seu olhar se encontrou com Benjamim – desejo muitas felicidades ao novo casal, mas eu realmente preciso ir.
Então, mais uma vez, Antonela virou as costas e partiu, deixando Benjamim atordoado, sem saber como lidar com a mulher que ele havia abandonado no altar.
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