Capítulo 38 - o filho secreto do bilionário
- Erica Christieh

- há 11 horas
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Antonela permaneceu parada algum tempo debaixo da cobertura do ponto de ônibus, vendo pessoas embarcando e desembarcando o tempo inteiro sem que ela se movesse.
Foi um erro ter voltado aquela cidade. Um erro maior ainda ter dado ouvidos as loucuras de Dominique. Ficou perdida nos próprios pensamentos quando seu olhar se voltou ao carro que vinha na mesma direção de onde ela estava.
Era o carro do Benjamim. Imediatamente ela se esgueirou no meio da multidão e se escondeu para que ele não a visse. Quando finalmente ele passou em alta velocidade, ela pode ficar calma.
Pegou o telefone no bolso de trás e ligou para Dominique dizendo que não voltaria ao trabalho naquele dia. Precisava ter notícias de Adam.
Carmélia já era uma senhora de idade, era arriscado demais deixar Adam sob os cuidados dela. Quando Antonela embarcou no ônibus que a levaria até a zona rural, ficou pensando sobre essas coisas. Ela se sentia uma péssima mãe por ter que trabalhar e deixar seu filho em casa.
Sua cabeça trabalhava a mil buscando uma solução, mas a cada volta que ela dava parava em Benjamim e nas últimas palavras que ele lhe disse.
Se ela estivesse se casado com ele, Adam teria um pai e certamente empregados para cuidar dele. Antonela não precisaria trabalhar e ela conviveria com um homem arrogante e obstinado que não a amaria.
Era terrível. Tentou apagar tudo isso da memória, mas não conseguiu. Desceu do ônibus a cem metros de distância da entrada da fazenda certificando-se que ninguém havia seguido ou estava à espreita a espionando. Quando chegou a porteira os cachorros latiam e ela viu Adam correndo eufórico em sua direção.
Ele pulou no colo dela e Antonela achou estranha a recuperação repentina dele. Nem mesmo parecia o mesmo menino doente de horas antes. Nem sinal de febre ou qualquer desânimo. Adam agia como um garoto saudável.
Observou Carmélia aparecer na porta e caminhar com dificuldade em sua direção. Ela sorria, feliz por Adam estar bem, e Antonela até mesmo se sentiu culpada por não confiar tanto assim na mulher.
— O menino está ótimo! – ela disse, fazendo Antonela sentir uma onda de alívio – mediquei ele e dei um dos meus xaropes milagrosos. Veja como ele está bem.
Antonela sorriu para ela e, depois, olhando para o rosto do menino, perguntou como havia sido seu dia. Mas Adam não queria conversar, se esforçou para descer do colo da mãe e correr freneticamente atrás das galinhas.
— Pelo menos uma notícia boa nesse dia – seus ombros relaxaram, seus braços se soltaram, seus olhos se abriram como se ela tivesse extraído toda a esperança de volta.
Carmélia parecia genuinamente intrigada agora.
— Por que está tão cedo em casa hoje? – foi-se o olhar vago de seus olhos amendoados, substituído por um olhar de dúvidas intrigantes – por que a Dominique não veio com você?
A aparência de Carmélia enganava o mais esperto dos seres humanos. Ela sempre estava quieta, como se estivesse perdida no mundo, porém seus ouvidos permaneciam atentos a cada ruído. Enganava-se quem achava que Carmélia não sabia das coisas ou ao menos desconfiava delas.
— Fui dispensada mais cedo do trabalho – houve um momento de silêncio enquanto Antonela lembrava-se do que acontecera com o seu pai e, limpando a garganta, voltou a dizer – o Henrico passou mal e eu precisei ir até o hospital para acompanhá-lo.
Carmélia a observou com um falcão e seu semblante tornou-se sério indicando que ela também se preocupava com aquela situação.
— Lamento muito pelo seu pai – instalou os lábios – mas ele vai se recuperar logo. Henrico é um carrasco e precisa viver o suficiente para pagar pelos seus pecados.
Antonela se surpreendeu com a declaração de Carmélia. Nunca havia escutado ela dizer coisas assim antes. A maneira como ela pronunciou as palavras, uma confiança irradiando dela, deu a impressão que Carmélia sabia mais do que parecia.
— Eu não sabia que a senhora conhecia tão bem o Henrico.
Carmélia sorriu como se encontrasse enorme graça nas palavras de Antonela. Desviando o olhar, passou a cuidar das pequenas roseiras que havia na entrada da casa e então, despreocupada, desabafou.
— Eu não conheço o seu pai, não da maneira como acha que conheço – uma onda de curiosidade, desconhecida e indesejada tomou conta de Antonela – mas conhecia bem a Francesca muito antes dela se casar com ele.
Antonela se encostou no batente da pequena escada que dava acesso à varanda e sentiu a boca secar com as informações de Carmélia. Como aquilo deveria ser possível?
— Eu nunca vi você e a minha mãe conversando – ela gaguejou confusa – como você afirma que conhecia ela?
Carmélia riu novamente, um som quente e convidativo e uma velha faísca voltou aos seus olhos como uma boa lembrança.
— Quando mais novas, eu e Francesca éramos melhores amigas assim como você e a Dominique. A amizade de vocês foi uma grata surpresa tanto para mim quanto para Francesca – mas em seguida o sorriso no rosto de Carmélia desapareceu e sua mandíbula se apertou - não sabe como eu me alegro em ver a amizade de vocês, me traz boas lembranças.
Carmélia se silenciou quando sentiu um nó sufocando sua garganta. Imediatamente sentiu necessidade de se sentar na escadaria. Suas mãos tremulavam sob o olhar conflitante de Antonela.
— Eu sei que a Francesca nunca falou de mim para você – seu rosto esquentou de repente e Carmélia estava ao ponto de chorar – mas quando ela se casou com o seu pai, Henrico a proibiu de continuar sendo minha amiga. Aquele velho sempre me considerou uma péssima influência para a sua mãe.
O coração de Antonela martelava contra suas costelas e ela se viu obrigada a se sentar ao lado de Carmélia para também não desabar. As palavras de Carmélia, a maneira como ela as dissera, o brilho estranho em seu olhar. Tudo parecia errado.
— Ele nem sequer deixou que eu fosse me despedir dela – começou a enxugar as mãos sobre o avental surrado, quando Antonela viu lagrimas escorrendo pelos seus olhos – ela sempre vinha às escondidas na fazenda para que pudéssemos conversar e dizer o quanto sentia sua falta. Sua mãe amava você, embora o Henrico quisesse…
Se silenciou novamente, como se as palavras perecessem, sendo impedidas de serem pronunciadas.
— O que o meu pai queria, Carmélia? – os olhos de Antonela encheram-se de lagrimas ao olhar nos olhos da mulher.
Carmélia sorriu, se levantando em seguida. Descendo as escadarias, foi em direção a Adam e o pegou em seus braços.
— Eu não estou dizendo isso para que você se sinta culpada, Antonela – Carmélia passou a mão sobre o rosto dela – a Francesca ficaria feliz se soubesse que você deu a ela um neto legitimo. Agora você pode entender por que gosto tanto do Adam.
Antonela olhou para ela com perplexidade e gaguejou, mas Carmélia encerrou o assunto pela metade, entrando na casa dizendo precisar dar um banho em Adam antes que o tempo esfriasse.
Em choque, sua mente explodiu com as perguntas que assolavam. O que Carmélia quis dizer com o neto legitimo? Que mais segredos a envolviam, em Henrico?
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